Apesar de o Brasil contar com uma regulamentação avançada relativa ao descarte e disposição de resíduos sólidos, ela é pouco praticada. Para saber sobre o assunto, o jornal EI! conversou com o diretor do REMADS-UFF, professor Julio Wasserman.
“A REMADS é uma rede que agrega profissionais de várias áreas, como médicos, químicos, geólogos, sociólogos, cientistas políticos e tem por função identificar problemas ambientais que podem ser resolvidos. Esses profissionais atuam de maneira interdisciplinar que permite identificar soluções que não vão causar conflitos na comunidade, gerando um processo de estudo e determinação de soluções mais eficientes”, explica Julio, que é oceanógrafo.
Segundo o professor, muitas pessoas têm dúvidas sobre a diferença entre lixo e resíduo sólido. Ele explica que lixo é um termo coloquial, que significa praticamente tudo aquilo que se descarta e considera mais adequado utilizar-se o termo resíduo sólido. “Resíduo sólido é o que é transferido para as estações de tratamento de resíduos sólidos ou para os aterros”.
O professor esclarece outra dúvida comum das pessoas que é a diferença entre lixão e aterro sanitário. “Lixão, que é outro termo coloquial, significa uma descarga não controlada de resíduos sólidos. O aterro sanitário pode ser controlado ou não controlado, mas implica necessariamente a constituição de camadas, com lixo e aterro por cima, para proteger esse lixo e impedir que ele fique exposto a céu aberto”.
O descarte incorreto de resíduos sólidos vai muito além da questão estética. Segundo Wasserman ele compromete o meio ambiente “pelo desequilíbrio ecológico causado por animais que se alimentem daquele material, não saudável para eles e pela proliferação de animais como ratos; com a modificação da estrutura do local, além do problema que pode ser causado pelo chorume, que se infiltra no solo contaminando o lençol freático”.
O diretor da REMADS lembra que apesar do Brasil ter uma regulamentação avançada na questão relativa à aterros sanitários, descarte e disposição de resíduos sólidos, ela ainda é muito pouco atendida. Segundo ele, essa nova legislação gerou no estado do Rio de Janeiro algumas ações como o Plano Estadual de Resíduos Sólidos, que prevê a construção de aterros sanitários, de estruturas para receber esses resíduos sólidos por todo o estado. “Quando esse plano for concretizado, acredito que a situação do estado do Rio de Janeiro vai melhorar muito”, comenta.
O professor afirma que a destinação adequada para o lixo doméstico produzido pelas cidades é o aterro sanitário. Ele esclarece que um aterro sanitário exige uma área estabelecida por tempo determinado e o planejamento para a quantidade de lixo que será despejada no local. Proteger o lençol freático deve ser uma preocupação ao se preparar o terreno que deve contar com uma vedação muito bem feita. Também é preciso uma estrutura de evacuação em função do gás metano que, se acumulado, pode explodir. “Então, o aterro sanitário é uma estrutura complexa, mas é necessário para se ter uma destinação desse resíduo sólido de maneira adequada”, afirma.
Além do poder público, a comunidade também tem um papel importante na questão do lixo, afirma o professor: “A comunidade tem dois papeis em relação à questão ambiental: unida através de associações de moradores, verificar se o poder público está exercendo corretamente o seu papel, e também saber que não deve descartar o lixo em qualquer lugar”.
As campanhas de reciclagem são importantes na conscientização da população, segundo Wasserman. “As campanhas de reciclagem ajudam, mas no estado do Rio de Janeiro, é preciso criar uma cultura a partir de ações que facilitem a destinação do lixo reciclável. É muito difícil, mas eu por exemplo separo na minha casa o lixo orgânico do papel, do pet e do metal. Eu tenho esses quatro itens, poderia ter outros. Pilha eu também coloco separadamente. Agora, é importante a prefeitura disponibilizar um número maior de pontos de coleta, porque infelizmente as pessoas ainda não têm muita condição de pegar 50 garrafas pet, botar em um sacão e entrar em um ônibus para destinar no local adequado. Eu acho que os municípios de Niterói e do Rio de Janeiro têm poucos pontos e por isso a prática da reciclagem ainda não é muito feita. Por outro lado, como Niterói e Rio de Janeiro têm muitos condomínios, seria importante que esses condomínios começassem a tomar essa iniciativa”, finaliza.
Na foto: professor Julio Wasserman
Imagem: Rafael Sardenberg
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