Aos seis anos, acompanhei a doença e o falecimento de papai por quem, como a caçula de seis filhos, era acarinhada e mimada, atendida nas mais bobas das vontades. Sem ele mamãe passou, sozinha, a cuidar de todos nós, em condições bem difíceis, uma vez que ele era o provedor da família, com sua profissão de dentista.
Nossa vida mudou financeiramente; afetivamente, mamãe procurou prover a todos da cota que lhe era possível. Mesmo assim, eu nunca me esqueci do calor da mão de papai, cuidadoso, segurando a minha na travessia a pé, da ponte sobre o rio Paraíba (foto). Ele me levava para o consultório dentário que ficava do outro lado da cidade, ao lado da casa de minha avó, onde eu brincava nas fruteiras do pomar.
Acho que, naquele dia era feriado, pois eu nunca faltava na escola. Ou então, por pressentir algo, insisti em passar o dia com papai. Nunca tive coragem de esclarecer isso com mamãe para evitar a ela tristes recordações.
Lembro-me dele recusando o almoço na casa da vovó e fechando o consultório mais cedo. Naquela tarde ele adoeceu e quinze dias depois nos deixou. Foi meu último passeio com ele.
Mamãe passou a ser a heroína de minha vida, pois criou, exemplarmente, sem recursos, seis filhos seus e mais tarde adotou a sétima, cujo umbigo caiu em nossa casa, e hoje é minha muito amada irmã Bebel.
Às vezes, fico a pensar como Deus é sábio. Não consigo imaginar, caso a vida nos tirasse mamãe prematuramente, se papai daria conta de nos criar e nos encaminhar na vida, como mamãe conseguiu fazer. Papai era amoroso demais e muito condescendente com os filhos. Segundo minhas tias, estaríamos todos estragados.
Não sei, nunca saberei. Hoje só me resta lembrar, com muita gratidão, o meu pai Aggêo e a minha 'pãe', Niette.
Maria Lucia Sardenberg
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