Uma cidade sem cinemas
Luiz Antonio Mello
Ironia. A primeira faculdade de Cinema do Brasil nasceu em Niterói, 1969, e teve como padrinho Nelson Pereira dos Santos. A cidade chegou a ter 30 ótimas salas de cinema, mas hoje só existem os poleiros (com todo o respeito) do Plaza e do Bay Market. Só isso. Todos fecharam.
Um fenômeno muito estranho, meio bizarro, porque afinal de contas estamos falando de uma cidade onde vive uma multidão de cinéfilos e uma das provas é o movimento nas locadoras de DVDs, especialmente nos fins de semana. Alguém lembra as gigantescas filas no Cinema Icaraí, cujo prédio está abandonando, aguardando, aguardando... aguardando o que, afinal? O que aquele prédio aguarda?
Se o mercado do cinema estivesse em baixa no Brasil, o Rio gritaria logo. No entanto, o que vemos na capital é uma situação inversa, com salas, pequenas, médias e grandes, pipocando em shoppings e fora deles. Perambulando pelas ruas de Niterói, perguntando aqui e ali, dá para constatar que a maioria das pessoas diz que desistiu de freqüentar os cinemas do bairro por causa da violência. “Eu gostava de ir ao cinema no meio da semana. Saía à pé da rua Miguel de Frias, onde moro, e costumava ir ao Icaraí ou ao Estação”, conta Fábio Monteiro Costa, estudante de economia. Ele disse ainda que “com o passar do tempo, sinceramente comecei a ficar com receio de andar por Icaraí depois do fim do filme. As ruas vivem vazias, ou então com umas pessoas mal encaradas nas esquinas”.
Outros dizem que deixaram de ir ao cinema por causa dos flanelinhas, da falta de vagas para carros e, também, por causa do fim de sessão das 10 da noite. “Trabalho no Rio, chego aqui por volta de 8 e meia da noite. A sessão das 10 era ótima porque dava tempo para tomar um bom banho, comer alguma coisa e ir ao cinema. Até que os cinemas acabaram com essa sessão e passei a ir ao cinema no Centro do Rio, depois do trabalho. Ainda assim, fico muito triste em viver numa cidade sem cinemas”, comenta Luzia Maria Teixeira, que trabalha no mercado financeiro.
No passado não muito distante (anos 70), por causa da faculdade, não era incomum cruzarmos nas ruas de Icaraí com grandes astros, como Leila Diniz, Paulo José, Grande Otelo, enfim, figuraças que vinham conhecer a faculdade de cinema e acabavam dando um giro pela cidade. E nesse giro pela cidade faziam pequenas palestras, batiam papo em pequenos auditórios sobre a importância do Cinema para a cultura de um país.
E a pergunta não quer calar. Por que os empresários não voltam a investir em cinema em Niterói? Nada colossal. Apenas salas dignas do Cinema e dos cinéfilos, que por aqui são milhares. Com relação ao Cinema Icaraí, volto a indagar: em que capítulo está essa novela? O que os novos donos daquele prédio emblemático (não seria exagero dizer que o Icaraí foi o Cinema Paradiso de muita gente) pretendem fazer afinal?
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