Os desafios de uma criança à frente do seu tempo
Na infância, enquanto o irmão era metódico e tranquilo, Gilson era visto como anarquista. Sua maneira de pentear os cabelos e de se vestir, totalmente diferente das outras crianças, chocava os parentes. As atitudes do garoto que os adultos entendiam como uma ‘afronta’ eram os primeiros sinais da criatividade artística do menino. Ainda adolescente ele começou a fazer bolsas alcançando muito cedo sua independência financeira e hoje é um designer conceituado internacionalmente além de empresário e proprietário de uma fábrica de bolsas no Rio de Janeiro e de três lojas: duas em Copacabana e uma em Ipanema.
Falando ao jornal EI!
Na sua loja de Ipanema, Gilson recebeu o jornal EI! Ele falou da infância no bairro de Santo Cristo, onde cresceu observando o Cristo Redentor e o Pão de Açúcar. Nessa época, ajudar a mãe nas atividades de costureira e o pai, que era estofador tinha ‘gosto’ de brincadeira. “Eu e meu irmão crescemos aprendendo a fazer coisas: reformar o móvel ou fazer o estofamento para a casa, até ajudar a mãe nos trabalhos de confecção. Era essa nossa brincadeira além das que eu tive num bairro simples com cara de cidade do interior.”
Gilson afirma que essa vivência com os pais não influenciou na sua escolha profissional: “Eu nasci com isso; estava tudo dentro do pacote”. Aos oito anos ele ganhou do pai tintas, pincéis e telas. “Já estava tudo definido”, garante o artista. O espírito empreendedor e criativo se apresentou muito cedo. Ainda criança ele fazia pequenos serviços para os vizinhos, vendia frutas do quintal, bilhetes de loteria, além de cafifas, que ele próprio fabricava.
O adolescente na faculdade
Aos dezessete anos entrou para o Curso de Belas Artes da UFRJ. Foi durante a faculdade que surgiu a primeira bolsa Gilson Martins, confeccionada com lona de cadeira de praia. A peça caiu no gosto de professores e estudantes e logo surgiram as primeiras encomendas. Nessa ocasião o jovem já havia feito muitos amigos no curso. “Os professores me orientavam, eram meus representantes das bolsas e vendiam minhas bolsas. E os meus colegas eram meus amigos e vendiam as minhas bolsas. Então todo mundo vendia as bolsas do Gilson. E o Gilson, antes de ser Martins, era o Gilson Bolsas”.
Depois da mochila de lona, veio a de lona com resina plástica sintética, para proteger o material de estudo em caso de chuva, ideia que partiu do pai. Usar matéria-prima que não era utilizada na confecção de bolsas passou a ser a opção do artista: toalhas de mesa, forro de Fusca, tela protetora de piscina viravam bolsas disputadas pela clientela. “Eu criei no mercado uma visão de dar uma segunda função para aquilo que tem uma única função”.
Bolsas temáticas – Rio e Brasil
“Tudo aconteceu na minha vida de forma muito casual, muito no destino, muito na intuição”, afirma Gilson. Durante um voo para Roma conheceu uma curadora de arte que ao ver seu portifólio demonstrou o interesse em fazer uma exposição com o trabalho. “A primeira ideia para essa exposição foi uma bolsa em forma do Pão de Açúcar. Assim surgiu a representação carioca do meu trabalho, que até então eu não tinha. Algumas pessoas entenderam logo. Outras criticaram muito e me ridicularizaram”. Gilson lembra que dos anos setenta até os anos noventa, a cidade do Rio de Janeiro era muito desmerecida. “Eu banquei mostrar o Rio de Janeiro no meu trabalho, nessa época”.
As clientes
“Com certeza o meu público tem uma personalidade muito forte de saber o que quer, independentemente de quem ele seja: pode ser uma médica, advogada ou artista da TV. Mas tem uma personalidade de uso, tem humor, tem simplicidade e tem uma coisa muito mais importante: coragem. Coragem de usar alguma coisa que está num limite muito grande entre o muito vanguarda e o possivelmente ridículo”. Naomi Campbell quando de suas vindas ao Rio adquiriu bolsas com a Bandeira do Brasil, afirma o designer. Gilson conta que tem um advogado muito refinado que compra bolsas para a mulher dele e afirma que ouviu, recentemente, de Cleo Pires o seguinte: “Gilson, a primeira bolsa que eu tive foi sua que a minha mãe me deu quando eu virei mocinha”. Entre sua clientela foram citados: Camila Pitanga, Sheron Menezzes, Suzana Vieira, Laura Cardoso, Caruso e Luigi Baricelli, entre outros.
Novos projetos
O Homem Bolsa parte para novos projetos como o Gilson Casa. “Devo mostrar em Milão uma ambientação que apresenta porta-revistas, porta-champagne, o avental e os relógios de cozinha que os ponteiros são ícones do Rio. Lancei os papéis de parede, agora vamos buscar um fabricante para fazer. Esse assunto da Home, da decoração eu gosto muito disso”, declarou.
Também estão sendo desenvolvidas as primeiras peças da Gilsinho, a linha infantil da marca, que pode chegar às lojas, como um teste, ainda no primeiro semestre deste ano. “É um trabalho novo, mas eu nunca fui distanciado desse lado lúdico e infantil. Ele está registrado no meu trabalho. É só deixar claro que essa linha agora são construções para as crianças, finalizou Gilson Martins”.
Imagens: Rafael Sardenberg
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