Quem anda pela orla de Niterói aos sábados, bem cedo, pode observar o grande número de pessoas praticando esportes. Mesmo em manhã gelada e com forte nevoeiro, a tenda da Tri-Training, na praia de São Francisco, está movimentada. São atletas em aquecimento antes de sair para o ‘treinão’ de sábado.
Foi lá que, encolhidos pelo frio, conversamos com o Fábio Celso Oliveira Sofia, orientador de inúmeros atletas, com idades que variam de 13 a 82 anos. As pessoas que procuram a Tri-Training praticam, em sua maioria, esportes que compõem o triathlon: corrida, ciclismo e natação. Mais de 90 por cento dos clientes são de corrida.
Praticar esporte sem o acompanhamento de um profissional é um risco: “O profissional vai cuidar para que não ocorram lesões pela má execução dos movimentos, além de orientar e prescrever os exercícios para o atleta não pecar, nem pelo excesso, nem pela falta; não se subestimar nem superestimar em relação ao treinamento”, explica Fábio, que é também graduado em Educação Física pela UFRJ e pós-graduado em Treinamento Esportivo e Fisiologia.
Iniciar na prática de um esporte nem sempre é fácil, afirma Alexandre Bezerra de Menezes. “O início foi difícil, mas hoje não consigo me ver sem o exercício”. Alexandre que já participou de maratonas no Rio, Paris, Buenos Aires e Santiago está se preparando para mais uma em Berlim e outra no Chile. As mulheres também são adeptas da corrida: Heloísa Gregg está se preparando para a maratona Disney e Carla Bogea para a meia maratona de Windsor, em Londres.
No retorno os atletas vão fazer alongamento com o massoterapeuta da Tri-Training, Álvaro Maiorano. “Eu procuro incentivar a prática do alongamento. Alongar é importantíssimo para que o atleta não venha a sofrer nenhuma lesão nem contusões. Todo atleta deve alongar pelo menos uma vez ao dia”, afirma.
Ciclismo: no treino, disputa com os carros nas ruas
O orientador da Tri-Training diz que praticar corrida, em Niterói, é mais fácil que ciclismo, apesar das condições estarem melhor do que há alguns anos atrás. “Hoje existe a ciclovia em São Francisco que, bem ou mal, as pessoas respeitam. Ela é sinalizada, os moradores já sabem o horário que funciona como faixa exclusiva de ciclistas”. Além da ciclovia o grupo também pratica em Camboinhas e nas estradas com acostamentos mais largos, como as de Maricá e Teresópolis.
Para o treinador, mesmo com dificuldades, o ciclismo vem evoluindo: “Muitos atletas de Niterói estão despontando no ciclismo de rua, no mountain bike e no triathlon”. Ele cita Pedro Paulo Barbosa no ciclismo/triathlon e Ezequiel Moralles, argentino que vive em Niterói há muitos anos. “Ezequiel foi campeão do Iron Man do Brasil, uma prova classificatória para a prova no Havaí”, afirma Fábio Celso.
Fábio alega que falta patrocínio das grandes empresas e estrutura melhor para treinamento: “O ciclista aqui tem que competir com os carros nas ruas para treinar, diferentemente dos velódromos e locais de treinos da Europa e Estados Unidos”, desabafa.
O Brasil ‘ecológico’ não investe em ciclovia, mas reduz IPI para compra de carro
Depois de conversar com os corredores conversamos com dois ciclistas: Leonardo Cianella e Tiago Lessa. “O ciclismo proporciona paz, sintonia comigo mesmo, integração com os amigos e muita qualidade de vida”, diz Leonardo. Com Tiago falamos sobre a bicicleta como meio de transporte. Ele entende que “a bicicleta como meio de transporte regular seria possível se as pessoas respeitassem os ciclistas. Seria uma forma de desafogar o trânsito. Conheço pessoas que trabalham no Rio e, apesar das dificuldades, atravessam com as bicicletas na barca e vão até a zona Sul”. Fábio vai além: “Os governantes não têm interesse em botar o pessoal para pedalar, para ir para o trabalho, para cobrir distâncias mais curtas. A maioria das pessoas quer pedalar, só que é impraticável. Falta um anel cicloviário ‘legal’. Na Europa, as pessoas vão de terno, pedalando para o trabalho. Se quiser tomar um banho, no trabalho tem vestiário e banheiro”.
Em verdade, no Brasil o investimento em ciclovia é muito tímido, para um país que se diz preocupado com a sobrevivência do planeta. Correndo na contramão das questões ecológicas o Governo Federal reduz o IPI para compra de carros, um dos maiores responsáveis pela emissão de gases poluentes.
Imagem: Rafael Sardenberg
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