Diante da crescente onda de violência no mundo, com
vários países sofrendo os horrores da guerra em nome de religiões, outros
subjugados por cruéis ditadores políticos e quase todas as nações perdendo seus
jovens para o vício das drogas cabe a pergunta: A Humanidade Pode Mudar?
Esta indagação é o título de um dos livros do educador
Jiddu Krishnamurti que, por mais de seis décadas, afirmou que a transformação
da sociedade só poderia acontecer se a educação tivesse o propósito de semear a
bondade no coração dos educandos.
Desde muito jovem Krishnamurti demonstrava
seu grande interesse pelo ato de educar. Com apenas 17 anos escreveu seu
primeiro livro: “A Educação como Serviço”, em cuja introdução ele explica:
“...
Muitas das sugestões feitas neste livro procedem de recordações da minha vida
escolar vetusta. Eu próprio experimentei tanto o método correto de ensino como
o incorreto e por isso pretendo auxiliar os demais a encontrar o modo correto
de o fazer”.
Krishnamurti nasceu na Índia em 1895
e foi educado na Inglaterra, dentro da Sociedade Teosófica que desejava
apresentá-lo ao mundo como o novo Messias. Aos 35 anos ele dissolveu a Ordem Da
Estrela, instituição criada para a realização de sua missão ‘messiânica’ e
devolveu aos doadores o rico patrimônio colocado à sua disposição. No último discurso
proferido na Ordem ele afirmou:
“...
Eu não quero pertencer a nenhuma organização do gênero espiritual, por favor,
compreendam isto.”
“...Se
uma organização for criada com esse propósito, ela se transforma numa muleta,
um ponto fraco, uma dependência, incapacita o indivíduo, e impede-o de crescer,
de estabelecer sua singularidade, que reside na descoberta que ele deve fazer –
por si mesmo - daquela Verdade absoluta, não condicionada.”
“...Tal
como disse, tenho um só propósito: tornar o homem livre, impulsioná-lo para liberdade,
auxiliá-lo a romper com todas as limitações, por que somente isso lhe dará
felicidade eterna, lhe dará a incondicionada realização do ser.”
A partir de então ele seguiu seu
caminho só e único, proferindo palestras públicas anuais, em vários países. De
certa forma, qualquer que fosse o tema abordado, a Educação sempre esteve
presente em sua fala.
De tudo o que Krishnamurti apresentou
- os seus ensinamentos abrangem a Pedagogia, a Psicologia, a Filosofia, a
Física Quântica e a Metafísica – considero que o tema Educação foi o que mais
marcou o seu trabalho.
Ele afirmava que a educação, da forma
com que é conduzida, fabrica um tipo de ser humano cujo interesse é procurar
segurança e sucesso profissional, sem a mínima compreensão da parte mental e espiritual
inerentes à vida humana.
“O
mero cultivo das capacidades técnicas destituído da compreensão do que é a
verdadeira liberdade conduz á destruição e à guerra; e isso é justamente o que
está a acontecer no mundo...”
Percebendo a necessidade de uma nova
modalidade de educação, não baseada apenas no conhecimento técnico, mas
principalmente no desenvolvimento do autoconhecimento, fundou escolas em vários
pontos do mundo, onde o aluno se aprofundaria na descoberta de toda sua
potencialidade.
“A
escola é um lugar onde se aprende sobre a totalidade e a plenitude da vida. A
excelência acadêmica é absolutamente necessária, mas uma escola inclui muito
mais do que isso. É um lugar onde tanto o professor quanto o aluno exploram não
só o mundo exterior, o mundo do conhecimento, mas também seu próprio
pensamento, seu próprio comportamento”.
O educador apontava que a educação
deve produzir o florescimento da bondade nos educandos. Esse seria o caminho
para a completa transformação da sociedade. Para alcançar tal propósito ele
considerava necessário que o professor seja verdadeiramente religioso.
“Por
se devotar unicamente á liberdade e à integridade do indivíduo, o tipo
apropriado de educador há de ser profunda e verdadeiramente religioso, e não adepto
de qualquer seita ou religião organizada. Livre de crenças e rituais...”
Krishnamurti faleceu em 1986, aos noventa anos. Seus
ensinamentos estenderam uma ponte entre a ciência e a religião, tendo sido eleito
um dos cinco santos do século XX, pela revista Time.
Com centenas de livros publicados em quase trinta
idiomas, seu trabalho é mundialmente reconhecido e está incluído no currículo
de 180 universidades da América.
Alguns títulos de livros sobre educação
Ensinar
e Aprender, Editado
pela Instituição Cultural Krishnamurti (ICK) Palestras e os debates realizados
com alunos e professores das escolas de Rishi Valley, na Índia.
O Começo do Aprendizado, Editora Cultrix – reprodução de palestras para pais e professores.
Educação e o significado da vida, Editora Cultrix - Investigações
do autor com estudantes e professores, bem como inúmeros interessados na
pedagogia, em todas as partes do mundo, a respeito da verdadeira educação para
a vida.
A Arte de Aprender - Cartas às escolas, Editora Terra Sem Caminho - Como não podia estar
presente em todas as escolas ao mesmo tempo, Krishnamurti enviava,
quinzenalmente, cartas aos responsáveis e professores das escolas por ele
fundadas, na Índia, nos Estados Unidos e na Inglaterra. Este livro é uma
coletânea dessas cartas.
Novos Roteiros em
Educação, Editora
Cultrix – Coletânea de palestras proferidas às margens do rio Ganges para
jovens com idades de 9 a 20 anos, em 1952.
Texto: Maria Lucia Sardenberg
Fotos: www.jkrishnamurti
Krishnamurti em palestra com alunos da escola por ele fundada na Índia |
Nenhum comentário:
Postar um comentário