sábado, 4 de outubro de 2014

SAUDADES DE RECEBER E ESCREVER CARTAS




Hoje acordei saudosa de coisas que, há tempos, não faço. Saudades de banho de rio e cachoeira; de caminhar por estrada de terra, sem barulho de carros ou motos; de balançar meu corpo numa rede; de cantar no chuveiro e de escrever cartas.

Sim, escrever cartas. Sentar-me numa cadeira e, sobre a mesa, ter uma folha em branco aguardando que eu a preencha de palavras amigáveis dirigidas a alguém de meu afeto. Já nem lembro a última vez que escrevi uma carta nem a quem remeti. Por certo, caprichei na caligrafia, rasguei muitas folhas e refiz inúmeras vezes o trabalho até dar-me por satisfeita antes de dobrar as folhas e envelopar, escrevendo com letras graúdas o destinatário e o remetente.

Sinto falta de receber pelos correios algo mais do que correspondência comercial. Hoje, face book e e-mail não me bastam.

Sinto vontade de escrever para alguém dizendo de minha alegria em tê-lo na lista de meus amigos. Perguntar como ele está de saúde e como vai a família. Confessar que gostaria de estar com ele, abraça-lo muito e conversar, sentados embaixo de uma árvore florida. Ou, quem sabe, ficar de mãos dadas, sem dizer nada, pois muitas vezes o silêncio fala mais do que mil palavras.

Sinto vontade de fazer isso. De tirar um tempo e escrever sem pressa, passando para o papel o que me der na cabeça. Mas aí vem o pensamento, esse inimigo das coisas boas e me detém alegando que vou ser chamada de louca e retrógrada.

E tem mais, afirma o diabinho: “Você acha que, no mundo de hoje, alguém tem tempo para ler longas cartas? No máximo, vão curtir e responder pelo face.

Resolvi, então, não escrever. Mas a vontade continua.

Imagem: casinhadecorreio.com.br
Texto: MLSardenberg

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