sexta-feira, 3 de julho de 2015

PENSAMENTO: UMA PÉSSIMA COMPANHIA

Não é nada animador começar o dia acordando cedo para ir ao Rio de Janeiro resolver ‘pendengas’ que deixamos acumular por preguiça de atravessar a baía. O Rio é divertido para lazer, mas de segunda a sexta, pela manhã, andar pelo Centro da Cidade é um estresse.
Foi com esse espírito que eu acordei hoje. Atravessei de barca e caminhei até a Avenida Presidente Vargas. A cabeça ‘minhocando’ ideias, antecipando dificuldades. Antes das treze horas, como por um milagre, tudo estava resolvido.
A felicidade foi tanta que resolvi me fazer um agrado: almoçar no Restaurante Cristóvão. Para quem não sabe, ele fica localizado no segundo andar de uma das dez melhores cafeterias do mundo: a Confeitaria Colombo. Sim, aquela que inspirou a marchinha ‘Sassaricando’ interpretada, em 1952, por Virgínia Lane.
Aos 121 anos, a Confeitaria Colombo continua linda. Seus espelhos belgas, o belíssimo mobiliário em jacarandá e as bancadas de mármore italiano se apresentam impecáveis. A claraboia, em mosaicos coloridos, filtra a luz natural que se distribui por todo o ambiente.
O cardápio do ‘buffet’ é diversificado e delicioso. Atende bem aos gulosos e aos que preferem uma refeição mais leve. A festa começa com a escolha do vinho. Depois continua com a chegada da cestinha de pães, deliciosos e delicados. A dúvida é cruel tanto na mesa de saladas e pratos salgados, quanto na hora de escolher a sobremesa, que não ficou no singular. Pensei – “uma é pouco, duas é bom e três não é demais”. Escolhi quatro.
Para deixar o ambiente mais acolhedor, no almoço do Cristóvão tem música ao vivo. Ela vem do piano instalado em um balcão, no terceiro piso. Para o repertório o pianista escolheu canções americanas, boleros inesquecíveis e o melhor da MPB.
Um pequeno espaço do restaurante estava coberto com tecido branco. Foi a maneira que a direção da casa encontrou para isolar o andaime onde o restaurador Carlos Rooney trabalha em um dos painéis na parede do salão. O artista nos informou que há três anos vem se dedicando à recuperação das pinturas, dos mosaicos, dos frisos entalhados e outras partes do prédio. Ele nos mostrou o que já foi feito e afirmou que ainda existe muito trabalho pela frente. “Trabalhar com restauração é algo delicado. Exige paciência e conhecimento da arte”. Carlos confessou que acontecem muitos imprevistos durante a obra, como a falta de material. Como se trata de construções muito antigas, as paredes podem apresentar infiltrações que comprometem as peças que estão sendo restauradas. “Um desses painéis foi comprometido com mofo. Então tive que repensar o processo de recuperação”, afirmou o restaurador.
Na cidade que possui inúmeros prédios históricos deteriorando, os proprietários da Confeitaria Colombo dão um excelente exemplo preservando a sua ‘joia’. Ela encantou personalidades ilustres que a visitaram como o rei Alberto, da Bélgica e a rainha Elizabeth, da Inglaterra. E, o local onde, no século passado, o viúvo, a viúva, o brotinho e a madame ‘sassaricavam’, hoje atrai turistas estrangeiros e brasileiros que lotam os salões para sassaricar, falar de negócios ou apenas admirar a beleza histórica do ambiente. E relaxar...
Assim aconteceu o que eu previa ser um desastre. Para eu aprender que o pensamento é a pior companhia. Ele estragou minha manhã. Ainda bem que eu salvei, a tempo, a parte da tarde.
Texto: MLSardenberg
Imagens: www.diversaoemfamilia 
Restaurante Cristóvão - segundo piso

Confeitaria Colombo - salão do térreo